Lactário Dr. Proença

Chama celeste,
que inspiras todo
o sentimento puro, casto e santo,
contigo uma alma – que viveu no lodo –
se purifica, e veste
dum manto
de esplendor,
- que no astro é luz, no coração amor!

Chama, que vejo,
lado a lado, iluminando o mundo,
desde o mais fundo
do Mar
ao mais alto dos céus;
desde o íris duma lágrima no olhar
das Mães, junto ao filhinho que adormece,
ao esplendor que acende o riso e o beijo,
que acende a prece
e a leva, em labareda, aos pés de Deus…

Chama divina
a cobrir
a infância duma aurora purpurina,
que vens, bondosa e calma,
pairar nas brancas pétalas duma alma
ou dum lírio a abrir.

Chama sagrada,
que fazes a esperança, o sonho, a crença…
que dás alento
a quem se perde na deserta estrada,
a quem se perde pela noite imensa…

Como eu quisera que no sentimento
de toda a criatura
tu refulgisses em beleza e graça,
como refulge e passa
um astro de oiro pelo azul da altura.

Entanto,
bem vejo e sinto quanta dor comportas!
ora revives esperanças mortas,
ora, ao lar tristonho
desces na asa do sonho
do beijo e do sorriso,
a dar-lhe o encanto
divino e auroral dum Paraíso! 

E’s bênção e carinho!
E’s sorriso e gorjeio!
E’s doce abrigo para o pobrezinho,
gota de leite de divino seio!

E’s a ternura, és a bondade santa!
O doce olhar que os orfãozinhos vela!
- E um rouxinol em cada berço canta!
- Em cada berço poisa uma estrela!

E’s o Lactário, o Asilo, a Creche – lindo
e doce abrigo em lenitivo à dor, -
onde o orvalho do céu se vê caindo:
- em leite e pão, em agasalho e amor!

José Augusto de Castro
In TERRA SAGRADA: Guarda,
Lisboa: Imprensa Lucas e C.ª, 1932

 

Hino do Lactário

Terra de neve caindo,
Fria e branca em nosso lar…
- Derrete-a o sol, puro e lindo,
Dos corações a brilhar!
          Ó sol de amor infinito
          Bendito sejas! Bendito!

Teve Jesus uma estrela
Sobre o seu berço, em Belém…
- D’ora em diante vamos tê-la,
No nosso berço também!
          Ó luz do céu que iluminas
          As almas sãs, pequeninas!

Nascemos tão pobrezinhos…
Quantos sem mãe: - sem amor?!...
- Já temos hoje carinhos,
E abrigos d’almas em flor!
          - Ó flor das flores mais belas,
          Feitas de orvalho de estrelas!

Mais um Altar de Bondade
Em nossa terra se ergueu…
- Cobre-o o sol de caridade!
- Enche-o um eflúvio do céu!
          Ó sol de amor infinito,
          Bendito sejas! Bendito!

José Augusto de Castro

Com música do Maestro Tomaz Borba, este hino foi cantado, pela primeira vez, na festa do lançamento da primeira pedra em 1 de Maio de 1926 com a execução da Banda Militar do Regimento de Infantaria N.º 12, sediado então na Guarda.